Não é exagero nenhum dizer que para assistir a um filme de Lar Von Trier é preciso de um pouco de bagagem ou, pelo menos, um pouco de conhecimento prévio para que você saiba onde está se metendo. O próprio cineasta é um caso à parte, sempre envolvido em polêmicas como a de Cannes neste ano onde ele chegou a ser persona non grata e até mesmo ano passado quando em divulgação do seu filme anterior “Anticristo” ele disse que era o melhor diretor do mundo. Como sempre existem doses de exagero da mídia e um pouco de humor não muito convencional de sua parte, mas isso é o que faz dele uma pessoa tão peculiar (cuja qual tenho até hoje um certo medo) e que possui uma filmografia tão impressionante, recheada de filmes arrebatadores e que nos tiram do lugar comum.
Como foi comentado por tio Lars (saca só a intimidade) ano passado enquanto ainda estava se preparando para as filmagens, “Melancolia (Melancholia)” é um lindo filme sobre o fim do mundo. Não se trata de um filme apocalíptico com uma história de superação, fé e com personagens heroicos, talvez esta declaração e a própria sinopse levem alguns desavisados ao cinema que se surpreenderão (pelo menos os que não saírem antes do fim como vi na sessão que fui) ao verem exatamente o contrário. Para quem já conhece as características de seus trabalhos sabe que Lars Von Trier exibe nas suas histórias muitos simbolismos e metáforas que personificam na tela na verdade toda sua desconfiança na humanidade e total descrença em ações ou entidades miraculosas.
A trama para quem já o conhece é mais uma vez dividida em duas partes que são precedidas por uma espécie de introdução, feita em câmera lenta (bota lenta nisso) que traz uma espécie de ‘resumo’ do que vamos ver mais a frente, misturado com alguns devaneios que, apesar de à primeira vista parecerem apenas belas imagens, têm seus significados que vamos descobrindo com o passar do tempo. Seguimos então a história de duas irmãs, Justine (Kirsten Dunst, “Tudo Acontece em Elizabethtown”) e Claire (Charlotte Gainsbourg, “Anticristo”) que encontrarão sérios desafios na forma em que se relacionam uma com a outra (e com as demais pessoas) à medida em que um planeta, chamado Melancolia, se aproxima do planeta Terra.

A primeira parte se inicia com o dia “mais feliz de toda mulher”, o casamento. Justine transparece no início nervosismo, mas com o passar do tempo percebemos que na verdade estamos lidando com uma pessoa tentando lidar com sua depressão. É importante lembrar que não deixa de ser um retrato do próprio diretor, que também teve que enfrentar a doença e que nos faz sentir na pele, com auxílio da ótima atuação de Kirsten Dunst, como é passar por tudo isso. E mesmo que esta primeira parte possa parecer “menor” em relação à segunda, até porquê ainda nos traz alguns alívios cômicos, todos os momentos em “Melancolia” nos reservam boas surpresas e nos deixam mensagens interessantes.
Fica para a segunda parte (que se passa alguns dias depois da ‘festa’ milionária de casamento) os momentos de maior tensão do filme. Parte porque finalmente acompanhamos o desenrolar dos fatos da aproximação do tal planeta e parte por conta de ser centrado na personagem da excelente atriz Charlotte Gainsbourg. É justamente nos momentos que antecedem ao grande final que vemos algumas cenas e frases marcantes, onde Lars Von Trier deixa de lado o seu costumeiro “desprezo” pelo ser humano (apresentado de forma mais forte em outros trabalhos seus) para nos mostrar o quão somos insignificantes. Para uns pode parecer cruel, mas essa sua visão sombria e densa não deixa de ter seus fundamentos.
Para alguém que já sabe o que lhe espera lá na frente como é possível conviver e se entusiasmar com as banalidades e toda nossa insignificância? A luta diante de algo tão imenso e caótico só é fácil para aqueles que não sentem na pele e que não sabem como é conviver com algo tão devastador e repentino, ou então os ignorantes. São poucos os filmes que me fazem ficar presos na poltrona do cinema depois que as luzes se acendem, que conseguem ser deslumbrantes e capazes de nos trazer diversas interpretações, capazes de nos questionar coisas que temos como certa (e o buraco 19?) mas que, quando menos esperamos, nos impressionam. Um deleite que poucos são os capazes de nos proporcionar.
Melancolia (Melancholia, 2011 – 136 minutos)
Drama, Ficção científicaUm filme de Lars Von Trier com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Alexander Skarsgaard, John Hurt, Stellan Skarsgaard, Kiefer Sutherland e Charlotte Rampling.
É Márcio,
ainda bem que você alertou para o filme! Vou deixar pra ver quando estiver na locadora 😉
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Eu nem sou muito fã do LVT (odeio Dogville), mas este é filmaço !
Aqueles segundos finais de escuridão antes de aparecer os créditos são de arrepiar. Dá pra quase sentir fisicamente aquele impacto !!
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Não foi à toa que fiquei um tempo imóvel no cinema, me recuperando de tudo que tinha visto, e o final é realmente arrebatador.
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pra quê foi ler os comentários?
agora tou sabendo desse final!
hehehehe
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Os comentários são bem mais perigosos que os textos, fica a dica.
Bom, se serve de consolo, os primeiros 10 minutos mostram tudo o que vai acontecer durante o filme.
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Não é spoiler, pq vc na introdução, e nos trailers (eu acho) já mostra, lindamente, que o planeta vai colidir.
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Eu ainda fiz a trolada do ano e levei a esposa pra assistir (que não é tão fã desse tipo de filme).
Escutei reclamação o resto da noite, mas valeu a pena !
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Imagino, nesse eu vi umas 6 pessoas desistindo, mas em “A Arvore da Vida” (que vou comentar em breve), com 20 minutos 13 já tinham ido embora, meu amigo tava contando ahahaha
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Estou até com medo de ver esse filme depois dessa crítica, haha.
As expectativas estão lá no alto, verei o mais rápido possível (e procurarei ou levar alguém com o mesmo gosto de cinema como o meu ou não levarei ninguém. Corro o risco de ser xingada por escolher um filme “ruim”. Da última vez que eu quis ver Cisne Negro, infelizmente, não conseguir ir no cinema, mas comprei o dvd. Minha amiga achou tão ruim que quase me bateu, sério. Mas enfim, não são todas as pessoas que gostam desse tipo de trabalho né, pena).
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Hitomi, é um filme realmente complicado de indicar. Se você já apanhou uma vez é melhor previnir hehhe.
Realmente não é um filme que todos vão amar, mas arrisque e veja o que você acha e depois comente aqui.
Abração!
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O filme é uma metáfora. Quem sofria de depressão a tempos atrás era chamado Melancólico. Melancholia é o nome do planeta que se aproxima da Terra, na dúvida entre sua simples passagem ou colisão.
Justine, noiva que casa na primeira parte do filme, vai se revelando depressiva ao longo das cenas. Pai, mãe, cunhado…todos os “normais” da primeira fase do filme a tratam com medo ou indiferença.
Na segunda fase, quanto mais o Melancholia se aproxima, mais as pessoas sentem os sintomas da doença. Falta de ar, fadiga, ansiedade, angústia…tudo justificado no filme pelos fenômenos físicos desta aproximação ameaçadora. Enquanto todos se desesperam com o fim, Justine é mostrada como a redentora cética, que “já sabia de tudo” (como ela mesma afirma). “Que a terra é má, e não fará a menor falta no meio do nada”. Revela um diretor em nova fase, que faz um filme lento e beira a ficção científica; mas não se iludam, é o mesmo Von Trier realista e cruel de sempre.
Quanto mais próximo, mais as pessoas vão sentindo os sintomas desta doença.
Falta de ar, fadiga, ansiedade, desespero…tudo o que Justine, personagem principal do filme, sente na pele por já sofrer da doença. Pai, mãe, cunhado,,,,todos os “normais” da primeira fase do filme a tratam com indiferença. A única a entender é sua irmã, que mesmo assim ao sentir os sintomas com a passagem do Melancholia admite o pavor de estar depressivo.
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Quando passar aqui em Brasília eu assisto, ou então quando tiver pra baixar com qualidade boa.
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Nem sou muito fã do von Trier, mas resolvi dar mais uma chance a ele nesse filme. Adorei, meu preferido dele até então.
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espero que esse filme não seja a merda que foi anticristo..só vou ver esse filme por causa da Kirsten Dunst minha eterna vampirinha Claudia de “entrevista com o vampiro” pra mim o melhor filme que ela Fez e o melhor filme de vampiro que eu já vi!!
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NOSSA desse filme você não está falando mal
uau esse deve ser bom, mas quando baixo algum filme tenho medo dele ser ruim e me xingarem, não só xingar mas dizer que n tenho gosto pra filme e tals. que nen o SOBRENATURAL que tem um demonio escroto
😦 infelizmente n posso ver por isso!!
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Você que deve estar lendo apenas textos de filmes que achamos ruim (eu ou Dani Vidal, autora deste texto). Tem várias análises de bons filmes no blog.
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Caras, eu acabei de assistir, mas tem que ter clima para ver o filme, isto é, você tem que colocar na cabeça que você vai assistir algo diferente do cinema convencional, o que chamam de filme de arte. O que me irrita um pouco é que os filme do LVT são massantes demais. Gosto de filmes que fogem o lugar comum e para tal prefiro muito mais David Lynch ou os roteiros geniais de Charlie Kaufman. Acho os filmes LVT chatos e não é mesmo todo mundo que gosta. Eu sempre dou chance para os filmes dele e ele segue me decepcionando, todas as vezes. Porém, isso é apenas minha opinião.
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caramba..pense num filme ruim, odiei..nunca mais assisto mais um filme se quer do Von Trier…esses tipos de filme não são minha praia..eu só assisti pelo tema “fim do mundo”…me arrependi..foi a pior tarde da minha vida..morguei geral..
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É o tipo de coisa que sempre fala, não gostou de um tipo de filme, olhe o diretor e pense duas vezes antes de assistir outra coisa dele. hehehhe
Eu gosto muito dos filmes deles, Dogville é ótimo também. Só não gosto muito de “Anticristo”.
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eu pensei que esse seria melhor do que “anticristo”….eu assistir porque eu queria dar mais uma chance ao diretor…me arrependi amargamente, mais eu sempre faço isso ver o nome do diretor de qualquer filme…desse eu sabia que era do von trie…agora eu aprendi que num devo assistir mais nenhum..vou ficar em alerta
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Noossa, parece que apenas eu gosto desse diretor… hahah
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