Passagens importantes da história sempre servem de material e base para produções cinematográficas e a ditadura é apenas mais um dos (terríveis) assuntos que, vira e mexe, surgem nos cinemas. Em uma co-produção entre o Brasil, Chile e Venezuela, o filme “Dawson Ilha 10 (Dawson Isla 10)” – que foi o indicado do Chile para concorrer a uma vaga pra o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 (não levou) – retrata um duro e importante acontecimento para o povo chileno que se iniciou também (ironias à parte) em um 11 de Setembro, só que algumas décadas antes da famosa tragédia americana.
A trama é ambientada em 1973 no período em que o ditador Pinochet tomou o poder do Chile (destituindo Salvador Allende) e enviou para uma gélida ilha chamada Dawson importantes membros do governo de Allende, médicos, engenheiros, ministros e toda sorte de pessoas altamente graduadas. Como inimigos da ditadura e “comunistas desgraçados” eles passaram a viver em condições precárias alojados em barracões de madeiras e perdendo muitos de seus direitos básicos, até mesmo os seus nomes já que eram identificados por seus algozes apenas por números.
Existe um certo ar de “documentário” em “Dawson Ilha 10” devido talvez ao seu tom político e histórico. O início também é um pouco confuso, a estratégia dos militares em chamar cada um dos prisioneiros como “Ilha 3, 5, 8” e por aí vai, não ajuda muito a nos situarmos de imediato e identificarmos cada um dos personagens, em principal o tal do “Ilha 10” que está no título do filme. Mas fatos históricos são fatos históricos, e por mais que exista muita dramatização e adaptação dos acontecimentos reais, certas coisas não tinham mesmo como ser alteradas. Tudo isso deixa a levada da trama um pouco chata, não ajuda também o fato de ser uma história de outro país, se fosse algo sobre nossa ditadura, por exemplo, acho que o interesse seria maior, pelo menos essa é minha opinião bastante pessoal.
O tom gélido da ilha (muito bem retratado pelo visual acinzentado) e da forma como os prisioneiros eram tratados é muito bem representado em tela pelos atores que entregam boas atuações, aos poucos vamos conhecendo cada um dos personagens e nos afeiçoando a eles. O lado humano não demora a aparecer, onde vemos que até mesmo alguns soldados acabam ajudando os prisioneiros e existem momentos até de tranquilidade, ao contrário do que se pensa ao assistir uma produção que fala sobre confinamento e isolamento em campos de concentração, e isso é até surpreendente.
O filme nos apresenta apenas parte da história do Chile, um pequeno recorte de uma ditadura que durou 17 anos e deixou cerca de 3 mil pessoas “desaparecidas”. Em determinada cena um soldado diz ao seu superior: “…mas somos todos chilenos senhor” e, de ‘bate-pronto’, é repreendido. É um absurdo ver o que chilenos fizeram com chilenos em seu próprio país, assim como aconteceu e acontece em diversos lugares do mundo.
Como foi dito por quem me acompanhou na sessão, “Dawson Ilha 10” acaba sendo um bom convite para se pesquisar e se aprofundar um pouco mais sobre a história da ditadura do Chile, pensamento este que concordo totalmente. Se é um bom filme? Sim, é um bom filme, mas não posso mentir, é chatinho também. Vá preparado.
Dawson Ilha 10 (Dawson Isla 10, 2009/2011 – 117 min)
DramaDirigido por Miguel Littin com roteiro de Miguel Littin e Sergio Bitar. Estrelando: Christián de la Fuente, Sergio Allard, Luis Dubó e Sergio Hernández.
Me pareceu uma boa pedida, mas perdi no cinema. Acho que vale uma conferida. bom texto!
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Me interessei, tentarei conferir. É como você disse, algumas coisas não podem ser alteradas, então realmente em algum momento vai ficar confuso (exceção para historiadores e afins).
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