Holy Motors

– Precisamos rir antes da meia noite.
Diz o personagem de Denis Lavant à sua ‘motorista’ dentro da limousine (Edith Scob) que o leva aos seus ‘compromissos’.

Holy Motors

É neste ponto que quem está assistindo “Holy Motors” pode pensar: “E eu preciso entender tudo isto antes que o filme chegue ao fim”.

Só que engana-se quem acha que a produção dirigida e escrita por Leos Carax é uma obra que precisa ser entendida. Mais que qualquer coisa, trata-se de um filme que merece ser discutido já que é aberto a diferentes tipos de leituras e interpretações. Imprevisível, insano e capaz de trazer a tona sentimentos bastante antagônicos, foi para mim o lançamento mais “único” do cinema no ano de 2012.

Na trama, a bordo de uma limousine acompanhamos a jornada de trabalho do Sr. Oscar (Denis Lavant, “No Calor do Verão“) que consiste em realizar seguidos “compromissos” vivendo diferentes personagens e realizando diferentes missões.

Quem pensa que ler a sinopse antes de assistir ao filme pode servir como ajuda estará em sérios apuros. Tentar encontrar uma lógica ou racionalizar todos os eventos provavelmente será uma grande perda de tempo. Longe de ser unânime, trata-se de um trabalho destinado aos cinéfilos que querem se aventurar na discussão sobre o mundo do cinema (e tudo mais ao redor) e não permanecer como a plateia dorminhoca que aparece logo numa das primeiras cenas. Para os que não embarcarem na proposta “Holy Motors” se tornará o Satan Goss, terá o poder de enfurecer os monstros e transformá-los em seres incontroláveis.

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A linguagem utilizada está muito longe da convencional e adentrar no universo de “Holy Motors” é como seguir um caminho sem volta. As cenas apresentadas são uma sucessão de surrealidades e sequências sem um sentido muito claro ou explícito. Mesmo assim, a história segue uma linha que, quanto nada, ajuda o espectador a se situar e saber que uma hora a jornada de trabalho do Sr. Oscar vai se encerrar.

Sabe aqueles filmes que começam pouco entendíveis (digamos assim) e no meio dele você começa a entender? Bom, isso não é “Holy Motors”. E aqueles que te deixam malucos ou se sentindo burros mas quando chega a cena final tudo começa a fazer sentido? Bem, caro leitor, isso também não é “Holy Motors”. Quando tudo chega ao fim e as letras dos créditos começam a subir, só a bela canção que toca ao fundo será sua amiga.

– Só a beleza do gesto é que importa.
Esta frase é a mais marcante e poderia servir como síntese de “Holy Motors” e também da espetacular atuação de Denis Lavant. Os coadjuvantes, em principal Edith Scob, também estão muito bem.

Holy Motors Mask

Condições de fazer uma análise sobre esta obra acredito que não tenho, muito menos de indicar uma classificação para ela. O que posso fazer é recomendar fortemente “Holy Motors”. É uma obra singular e uma espécie de desconstrução da forma como estamos acostumados a receber os filmes, e só por nos fazer pensar e discutir sobre tudo o que foi apresentado, já vale o seu tempo. Assista e volte aqui, nem que seja para me apedrejar e solicitar o reembolso do seu tempo perdido.

* * *

Pior cena (do filme e uma das piores do ano de 2012): Denis Lavant após comer flores e levar Eva Mendes para uma caverna (me acompanhe e não se perca na maluquice), aparece nú e com a barraca armada. Se você não desistir aqui, seguirá fácil até o final.

Melhor cena: Quando surge uma trupe liderada pelo personagem interpretado pelo Lavant tocando sanfona. Não apenas esta cena como todas as canções e o trabalho sonoro estão espetaculares.

E o texto termina assim mesmo. Assistam.

 


Holy Motors (2012 – 115 min)

Um Filme de Leos Carax com Denis Lavant, Edith Scob, Eva Mendes, Kylie Minogue, Michel Piccoli, Elise Lhomeau e Jeanne Disson.

13 comentários sobre “Holy Motors

  1. Não bateu palmas ao fim da sessão? 😀 (piada interna)
    “Três, doze, merda!” antes da música sensacional.
    Logo percebi que não ia ter lógica, então me entreguei e me deixei levar pela loucura do roteiro. Apenas uma pessoa desistiu do filme, os outros 4, eu incluso, fomos até o fim.

    Quase toda hora o filme me fez lembrar de Cosmópolis. E você, Márcio?

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    1. Este sim, o típico filme que merece palmas no final da sessão e marcar seu território como jovem pseudo intelectual hahahah.

      Só assisti Cosmopolis até a metade, ainda não consegui terminá-lo (uma torrente bateu em minha porta e me trouxe o filme), é muito verborrágico e, realmente, te deixa perdido assim como Holy Motors.

      Mas achei o filme de Leos Carax mais interessante de acompanhar (tirando AQUELA CENA) do que Cosmópolis.

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  2. Assisti depois de ver que o filme está no topo de lista de melhores de 2012 (inclusive o prestigiado Cahiers do Cinema). Não deu p/ ver quantos controles tu deste. Talvez tenha sido de propósito. Atá agora não tenho uma opinião formada, se é genial ou pretensioso, se detestei ou se gostei. Um filme desconcertante. A cena da barraca armada realmente é apelativa, não é puritanismo da minha parte, mas não acrescenta em nada.

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    1. Não adicionar os controles foi proposital, de certa forma me senti um pouco como você se sente em relação ao filme, não sei se é apenas pretensioso demais ou se é tão genial que eu não tenha capacidade de dar uma nota.

      De qualquer forma, como eu escrevi, acho que é uma obra que merece ser assistida.

      E “desnecessária” ainda é pouco para àquela cena hahaha.

      Grande abraço.

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  3. De fato essa cena com o fera Denis Lavant e sua “empolgação” incomoda, mas paciencia… também achei Holy Motors uma ideia muito interessante, mas acabei não me empolgando tanto como boa parte dos blogueiros por aí.

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  4. Acho que este é o texto mais incompleto sobre o filme que já li.A frase “trata-se de um trabalho destinado aos cinéfilos que querem se aventurar na discussão sobre o mundo do cinema (e tudo mais ao redor) e não permanecer como a plateia dorminhoca que aparece logo numa das primeiras cenas” beira a cafonice e está mais para o lugar-nenhum do que o lugar-comum. Você assistiu o filme, mas certamente não compreende patavina de cinema. Um texto “único” (digamos assim).

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