Ela (Her)

Quem apostaria que uma produção que fala sobre uma história de amor entre um homem e um sistema computacional poderia abocanhar mundo afora tantos prêmios, ser indicado a 5 Oscar e ainda ser considerado, por muitos, um dos melhores romances já criados para o cinema? Mais que tudo isto, o novo filme do grande Spike Jonze traz ainda uma visão contundente sobre um futuro que não está muito distante do presente que estamos vivenciando, sendo assim um filme excelente em vários aspectos.

Bueno bigodón
Bueno bigodón

A trama gira em torno de um homem chamado Theodore (Joaquin Phoenix, “O Mestre”) que está nos estágios finais de um divórcio e que se sente bastante solitário. Ao ver um anúncio ele resolve adquirir um sistema operacional que promete atender a todas as suas necessidades. Após responder algumas perguntas e solicitar uma voz feminina para a comunicação, o S.O. se apresenta como Samantha (voz da Scarlett Johansson) e, partir daí, Theodore e Samantha começam a desenvolver um improvável e inusitado relacionamento.

É possível contar nos dedos os romances que conseguiram transmitir o sentimento de estar perdido de amor que deram certo no cinema tanto quanto este apresentado aqui em “Ela (Her)”, que funciona tanto pelo incrível talento que Spike Jonze (responsável por um dos filmes favoritos da minha vida, “Eu Quero Ser John Malkovich”) tem para criar obras originais, instigantes e, porque não, apaixonantes, quanto pela atuação incrível de Joaquin Phoenix que se entrega por completo, como de praxe, nesse papel. Ajuda (e muito) também o fato de ter se utilizado uma voz humana “natural” para a comunicação do S.O. Samantha e não uma daquelas locuções de “disque sexo” ou robóticas demais, e Scarlett Johansson (“Como Não Perder Essa Mulher“) de certa forma também “atua” ao entregar a sua voz sensual.

Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?
Ah… o amor!

Contribuem também as atuações dos demais atores do elenco coadjuvante, tanto as mais rápidas como as de Olívia Wilde (“O Preço do Amanhã”) ou Chris Patt quanto também as de Rooney Mara (“Terapia de Risco”) que faz a ex-esposa de Theodore e a da grande amiga do solitário escritor de cartas feitas a mão (que na verdade são ditadas e impressas com uma caligrafia) Amy Adams (“Trapaça”) que segue fazendo trabalhos cada vez melhores. Para completar, uma ótima trilha sonora dividida entre o Arcade Fire e Owen Pallett e uma utilização de cores muito interessante.

Ela” traz uma visão bastante imersiva e contundente de um futuro (não especificado) que faz o espectador se identificar com muitas coisas apresentadas. É difícil lembrar de outra ficção científica tão bem explorada, tão inventiva e que discute tão bem a forma como as relações humanas estão seguindo um curso curioso e, para muitos, preocupante.

Neste mundo onde os dispositivos inteligentes estão se tornando os melhores amigos das pessoas, existem limites para o amor ou para as formas de amar? Será que Samantha (o S.O.) está realmente se desenvolvendo a ponto de amar alguém ou está apenas seguindo scripts que foram previamente progamados a fazer? Se Theodore está se sentindo feliz nessa “relação” vale a pena discutir sobre sua possível falta de coragem ou maturidade para assumir também as coisas negativas que um relacionamento “real” (o que é real, o que não é?) traz ‘no pacote’? Estes são apenas alguns dos questionamentos que esta obra original, sensível e muito tocante traz de maneira bem explícita em sua trama.

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Assistir uma obra imperdível como esta é um presente que toda pessoa que gosta de ser surpreendido por filmes excelentes e que vão além da simples diversão momentânea devem se dar, nem que seja ao menos uma vez na vida.

***

  1. O lance de dispositivos controlados por voz já é uma realidade (Siri, Google Now, etc), claro, não tão avançadas como as apresentadas no filme que são muito interessantes. É o controle de voz superando o controle por toque (lá ele).
  2. Samantha Morton fez a vor original do SO mas Spike Jonze achou que algo não estava certo e daí resolveu substituir pela voz de Scarlett Johansson. O nome Samantha se manteve no filme.
  3. O passado é apenas uma história que contamos a nós mesmos (Samantha).
  4. Quero jogar o game do alien de boca suja que tem que encontrar a sua nave.

Excelente: Classificação 5 de 5

Ela (Her, 2013 – 126min)
Romance, Ficção Científica

Um filme de Spike Jonze com Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson, Rooney Mara, Amy Adams, Chris Patt e Olivia Wilde.

13 comentários sobre “Ela (Her)

    1. Não vai ter chances no Oscar, mas dos que vi eu fico com este em primeiro lugar, depois 12 anos de Escravidão e na sequência Lobo de Wall Street. Falta ver Nebraska para ter o parecer final.

      Spike Jonze até quando não é excepcional, como por exemplo em “Onde Vivem os Monstros” é sempre muito acima da média.

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  1. Gostei bastante, porém não me causou tanto impacto como na maioria. A voz da Scarlett Johansson contribuiu demais para o sucesso do filme. Um romance original e bem construído. Mas ainda prefiro, entre os indicados, 12 Anos de Escravidão, Lobo de Wall Street, Capitão Phillips, Philomena e Gravidade.

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  2. estou me sentindo na obrigação de ver esse filme,com tanta gente falando bem,sem falar no ótimo elenco.mas é melhor ver em casa mesmo,pois parece ser um filme bem sentimental,não quero chorar na sala do cinema,pois tenho vergonha hahaha.

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  3. Filme muito bom mesmo. Bem construído e executado, conta com atuações sólidas no geral e concordei bem com o que o crítico do Omelete colocou, tanto Joaquim como Scarlett mereciam indicações. Olha que não gosto da Scarlett a considero uma atriz mediana, mas sua atuação vocal foi muito bem feita.

    Não achei perfeito por ter um interlúdio um tanto desnecessário e as armadilhas típicas do gênero Romance, mas é um filme muito bom sim.

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  4. Em meu eterno delay cinematográfico, assisti o filme ontem (20/01/2015). E me surpreendi com o filme. Acredito que a maioria dos detalhes já foram citados e debatidos porém algo me chamo a atenção. Acredito que os SOs tenham se “retirado” para o bem da humanidade que estava mergulhada em um vazio, até então, preenchido pelo relacionamento com seus respectivos sistemas operacionais inteligentes.

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    1. O bom de ter um delay é que você consegue filtrar os filmes interessantes de verdade (baseando nas centenas de opiniões pelo mundo) e evita algumas bombas.

      Ela é um grande filme realmente e nos deixa vários questionamentos, este que você deixou mesmo é bem interessante e não tinha pensado por este ângulo. Sim, pode ser realmente.

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