O Duplo (The Double)

Ambicioso, esquisito, divertido, inteligente, estranho… são vários os adjetivos possíveis para este ‘novo’ (por aqui no Brasil já que ele estreou em 2013 no Festival de Toronto) trabalho de Richard Ayoade, que fez sucesso como ator na (excelente) série “The IT Crowd” e, de uns tempos para cá, vem atacando de dj diretor e roteirista. Baseado na história original do famoso escritor russo Fyodor Dostoevsky, “O Duplo (The Double)“, mesmo não sendo perfeito, trata-se de um filme bastante ousado, com uma identidade visual própria e algumas situações bastante divertidas.

A trama segue a trajetória do tímido, desinteressante e ‘invisível’ Simon James (Jesse Eisenberg, “Para Roma Com Amor“). Ele não tem o merecido reconhecimento no trabalho, na verdade quase ninguém percebe a sua existência ali, não possui amigos e nem mesmo a sua mãe lhe dá o devido reconhecimento. Quando um novo funcionário surge em seu trabalho a sua vida dá uma guinada, para pior. Idêntico fisicamente a ele, James Simon (o próprio Jesse Eisenberg, claro) é uma verdadeira cópia sua, mas no campo da personalidade é na verdade o seu oposto. Logo James Simon começa a tornar a vida de Simon James um verdadeiro pesadelo, tomando tudo o que é seu, até mesmo a sua paixão pela bela Hannah (Mia Wasikowska, “Segredos de Sangue“), fazendo aos poucos ele ‘desaparecer’ como indivíduo.

Double

O início do filme é muito bom, acompanhar a vida infeliz de Simon que todo dia enfrenta problemas no local onde trabalha há anos, no restaurante ou em qualquer lugar que ele vá e nunca é ‘lembrado’ ou reconhecido é bastante divertido. Como ocorre em qualquer filme de duplos, e aí é impossível não comparar com “O Homem Duplicado” de Denis Villeneuve, o grande ‘X’ da trama é acompanhar esse embate entre duas pessoas iguais mas diferentes (se é que você me entende). “O Duplo” ao contrário do filme do canadense Villeneuve (que por sua vez é baseado em obra de José Saramago), segue uma linha um tanto quanto depressiva com um tom mais cômico e com muito humor negro.

Com uma estética única, uma espécie de visual steampunk ou um daqueles futuros que os cineastas imaginariam em 1960, “O Duplo” tem um início muito empolgante e conta com uma direção acertada de Ayoade que soube trabalhar bem com o elenco e, inclusive, trouxe alguns atores que já trabalharam com ele em outras produções. Dos atores o único que não está 100% é Jesse Eisenberg. Ele acerta o tom perfeitamente com seu personagem mais tímido e depressivo mas exagera na dose com sua versão “malvada“.

Jesse e Mia em O Duplo

O desfecho poderia ser melhor acertado, parece querer correr para introduzir um terceiro ato de correria e suspense, tentando fechar a história com um final “bem tramado” que pode deixar os mais desatentos um pouco perdidos. De qualquer forma, só pelo visual e por algumas boas piadas e cenas “O Duplo” é bom o bastante para valer o seu tempo e é o tipo de obra que não merece passar desapercebida do radar de qualquer cinéfilo que se preze.

***

  1. A classificação oscilou entre 3 e 4 controles, daria uma nota 7 pro filme.
  2. Yasmin Paige que interpreta a Melanie e Craig Roberts que faz uma ponta como um detetive são os protagonista do belíssimo “Submarine” de Richard Ayoade. Outro que faz uma ponta aqui também é Chris O´Dowd que era o seu companheiro na série “The IT Crowd” que é um enfermeiro que aparece mais pro final do filme.
  3. Deu trabalho ver esse filme no cinema, como vem sempre acontecendo com produções que não são blockbusters.
  4. Porque eu sei como é parecer estar perdido e se sentir solitário e invisível” (Simon James).

 


Poster O DuploO Duplo (The Double, 2013/2015 – 93 min)
Thriller, Comédia, Drama

Um filme de Richard Ayoade adaptando história de  Fyodor Dostoevsky com Jesse Eisenberg, Mia Wasikowska, Wallace Shawn, Noah Taylor, Yasmin Paige, Cathy Moriarty, Phyllis Somerville, James Fox, Craig Roberts e Chris O’Dowd.

18 comentários sobre “O Duplo (The Double)

  1. Achei até interessante o filme , mas nao entendi muito bem ! Queria mais explicaçoes principalmente sobre o coronel , aquele guardinha que depois aparece como medico e sobre o final do filme (pq o suicidio, pq eles se machucavem simultaneamente , o que aconteceu na ambulancia lá )

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    1. William, não é um filme daqueles mastigados e claros, mas pelo que entendi os duplos são em sua essência a mesma pessoa. Quando ele descobriu que o que o ‘malvado’ fazia refletia nele, inclusive fisicamente, ele teve a brilhante ideia de tentar um suicídio. Enquanto ele estava num local onde podia ser salvo (a ambulância veio o socorrer) ele amarrou o seu duplo para que ele não tivesse como escapar e ser salvo. Assim ele poderia novamente viver “em paz” sem o outro “ele” para atrapalhar a sua vida.

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    1. Respondi o William, veja se responde também as suas dúvidas. Foi o que achei.

      Quanto a versão ‘malvada’ dele ser exagerada eu quis dizer no tocante a sua atuação, ficou um pouco ‘afetado’ e ‘forçado’ demais, acho que a versão ‘boazinha’ dele estava mais acertada e condizente com o personagem.

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      1. Respondeu sim, obrigada! Ao menos a parte do siucídio foi o que eu tbm havia entendido.

        Ah sim, agora entendi. Obrigada pela atenção Márcio!

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  2. Fica claro que são a mesma pessoa, quando um se machuca o outro se machuca também, e normalmente nos filmes eles fazem esse final de morte para matar a outra personalidade (como clube da luta, o homem duplicado etc), mas não consegui entender o personagem negro que aparece em vários trechos com profissões diferentes, e se eles são a mesma pessoa porque no trabalho eles tratam como se fossem 2 diferentes? Não sei se é para confundir ou mostrar a loucura do personagem

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