O Amor é estranho

O Amor é estranho, dirigido e roteirizado pelo virtuoso Ira Sachs , EUA, França, 2014.

Tenho para mim que os filmes vistos em festivais de cinema nem se quer se dão o trabalho de esperar que estes venham para o circuito comercial, pois como estes ganham os principais editais cinéfilos dos seus países e regiões, tais seletos filmes se sustentam pela grana dos editais, pois suas obras têm, uma forma mais comprometida com a sétima arte, forma esta bem diferente das obras audiovisuais que circulam nos complexos Multiplexs dos shoppings, onde o combo da pipoca custa o dobro do valor do ingresso da sessão.

Quem sai perdendo e fica a ver navios é mais uma vez o povo que não consegue se desvencilhar dessas comédias melas cuecas, estas no caso do Brasil. Pergunto-me se realmente vale a pena insistir em estimular as pessoas a assistirem filmes nacionais como, por exemplo: Meu Passado me condena 2; A ligeira impressão deste crítico, com toda sinceridade possível e cabível nesta resenha, é que vale mais a pena estimular as pessoas a gastarem seus reais em cervejas por vezes quentes vendo a um jogo de futebol de série B do seu clube, que ver as comédias nacionais produzidas hoje em dia.

Entretanto, políticas de audiovisual à parte, quis fazer esta pequena introdução acerca das errôneas, para não escrever mal intencionadas e incompetentes, distribuições de obras fílmicas no Brasil, para discutir sobre um belo filme que assisti há pouco tempo atrás em um circuito comercial (este que foge a regra), e percebi o quanto de diferença existe entre uma obra destinada a um festival de cinema custeado em comparação há um filme em circuito comercial dito como de “arte”. Dito ou escrito isto agora podemos especificamente tratar da obra fílmica em questão: O amor é estranho, onde temos em seu elenco principal nomes como John Lithgow (interpretando um aposentado e pintor) e Alfred Molina (dando vida a um músico e professor), fazendo os personagens principais da trama.

O filme começa com o enredo de quando o casal resolve unir seus trapinhos oficialmente perante a um juiz, e consequentemente à lei. A união já era estável para mais de vinte anos, trocando em miúdos: A união civil fora um mero presente ou troca de gentilezas que ambos se permitiram fazer e se darem e presente, declarando-se ainda mais apaixonados e juntos um ao outro. Todavia, fatos sociais atípicos se sucedem como cascata após a união formal de ambos. Um dos companheiros tinha um emprego estável de professor de musica em uma instituição católica. O musicista já lecionava na escola há mais de dezoito anos e seus superiores, no caso padres, sabiam de sua união com outro semelhante de mesmo sexo, todavia, quando este volta da sua lua de mel, fica sabendo da sua demissão. O padre, com aquele olhar piedoso nos seus olhos, explica-o que quando era somente sem ser “no papel” o seu casamento não afetaria os “Calcanhares de Aquiles” da poderosa igreja Católica (talvez isso explique ou se imagine à vasta quantidade de padres homossexuais na santa igreja que não podem sair do armário). Mas fato é que agora com o professor sem emprego, já que o outro companheiro mais idoso do casal vivia de uma pequena aposentadoria, o casal desta forma vê-se sem condições de continuar pagando o aluguel de casa que moraram por longos e românticos dezoito anos (e somente por dois anos não tiveram o direito de ter a residência para eles ), e por isso se veem de um segundo para o outro, pelo simples fato de uma cerimonia, não terem o direito de um teto para chamar de seu.

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O arco narrativo do filme se desenvolve a partir desta situação de não moradia de um casal estável financeiramente há pouquíssimos dias atrás. Sem terem a quem recorrer, ou melhor, tendo ainda há alguns poucos amigos há quem recorressem, eles fazem exatamente isso e se separam momentaneamente indo um morar em uma casa e o outro em outra de outro amigo em comum do casal de artistas. A grande sacada do roteiro não está na tentativa em abordar: “Os problemas de minorias”, mas sim na tentativa “exitiva” do filme focar-se no lado “sem teto” dos personagens centrais da trama, trocando em miúdos, a especulação imobiliária fora o centro do problema do roteiro, e não o fato de terem como gays os seus personagens principais, ou seja, em tempos de crise como o que passamos, esta situação de perder o emprego e ficar sem casa pode literalmente acontecer com qualquer pessoa, e para que isso aconteça basta apenas que não se jogue com as mesmas fichas desse sistema capitalista bruto “nú e crú”, e caso não entremos nesse esquema de esquizofrenia social , corremos seriamente o risco de acabar como o casal da trama, ou seja, sem eira e nem beira, e definitivamente “você perdeu playboy!”.

As minorias nunca venceram, todavia existe uma contradição, especificamente nesta temática gay: Há poucos meses atrás os EUA declarou totais direitos a pessoas do mesmo sexo que queiram se unir perante a lei daquele país. Então a pergunta que não quer calar e consequentemente deixo aos leitores é a seguinte: O Brasil, entre outros muitos países racistas e machistas existentes na América do Sul e Caribenha (isto sem mencionar Espanha e Portugal), estariam mais ou menos evoluídos sobre a questão “das minorias”? Acho que não precisa ter, não muito, mas ao menos um mínimo de bom senso e pouca estupidez para que cheguemos à conclusão que países como o nosso e doutros citados encontram-se ainda em idade pré-histórica quando o assunto é direitos humanos. Belo filme este O amor é estranho; Forte e firme na hora que tem de ser através do seu virtuoso diretor, e sensível quando o foco do assunto é o ser humano, independente de sua raça, sexo, religião, opção sexual e social.

 

Muito bom: Classificação 4 de 5
Nota 4 de 5

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