Eu estava com expectativas moderadamente altas para acompanhar o início de Watchmen na HBO e devo dizer que terminei o episódio satisfeito com o que vi. It’s Summer and We’re Running Out of Ice mostra a ambição de Damon Lindelof, que utiliza o universo de Watchmen para abordar temas relevantes para os tempos atuais.
SPOILERS!
A trama se passa cerca de 34 anos depois do que vimos na história em quadrinhos. É um mundo repleto de detalhes interessantes que mostram certo avanço do ser humano, mas também possui violência e racismo.
O episódio sofre um pouco pelo excesso de assuntos trabalhados, o que é esperado para o início de um seriado que está longe do lugar comum.
Há algumas cenas de ação competentes, mas chama a atenção neste primeiro episódio o funcionamento do mundo atual considerando os acontecimentos do final da história em quadrinhos. É uma evolução direta do que é visto lá, por isso considero um tanto difícil quem nunca leu o material original realmente aproveitar o seriado da HBO. Isso sem contar as inúmeras referências e easter eggs.
Mais do que isso, destaca-se o forte teor político que certamente será desenvolvido nas próximas semanas. Temos aqui uma polícia que costuma agir de maneira brutal de vez em quando, mesmo com diversas leis contra isso e também a presença de um grupo de supremacistas brancos chamado Sétima Kavalaria.
Se tudo for desenvolvido com a maestria que esperamos de Lindelof, aliado a boas surpresas e personagens que cativam de imediato como Sister Night e Judd Crawford a tendência é termos um ótimo seriado, ainda que possivelmente não alcance um público tão alto como Game of Thrones, por exemplo.
Massacre Racial de Tulsa em 1921

O episódio tem início com cenas que recriam o absurdo massacre racial ocorrido em Tulsa em 1921. Eu nunca havia ouvido falar desse triste acontecimento e o mais surpreendente é que até mesmo muitos americanos não sabem do que se trata.
Por dois dias brancos atacaram uma das regiões mais prósperas da comunidade negra nos Estados Unidos, resultando em dezenas de mortes, 10000 desabrigados e um trauma eterno.
Acompanhamos aqui uma família fazendo de tudo para proteger o seu filho, tudo feito de uma maneira que nos faz lembrar da origem do Superman. O fato é que em 2019 vemos esse menino, obviamente já idoso e em uma cadeira de rodas, ao lado do corpo do chefe de polícia Judd Crawford.
Será que um dos melhores personagens desse início está mesmo morto? E por que exatamente ele morreu? Algum tipo de traição?
Esse é o mundo de Watchmen

Um 2019 sem internet e smartphones. O pessoal usa o bom e velho pager para chamados de emergência. Os carros são elétricos.
Os Estados Unidos venceram a Guerra do Vietnã e transformaram este pais em um de seus estados. Nixon está no monte Rushmore e Robert Redford é o presidente.
Vez ou outra, uma chuva de lulas cai do céu e depois todo mundo segue a vida normalmente. Essa chuvinha de lula remete ao final de Watchmen, no qual Adrian Veidt usou um ser alienígena em formato de lula gigante para dizimar metade de Nova York.
Policiais fascistas, terroristas racistas

Os policias em Watchmen usam máscaras para não serem reconhecidos. Eles só podem utilizar suas armas se sentirem que suas vidas estão ameaçadas. As armas ficam travadas e precisam ser liberadas após a autorização de uma central. Essa ideia faz com que um policial seja alvejado nas primeiras cenas do episódio.
Apesar disso, o chefe da polícia pode invocar o tal artigo 4 e alguns policias usam da tortura para conseguir confissões.
A Sétima Kavalaria faz uso de uma máscara inspirada em Rorschach e tem seu nome derivado da Sétima Cavalaria do general Custer e da KKK. Os supremacistas brancos estão tramando alguma coisa envolvendo baterias de relógio, mas os objetivos deles ainda não são evidentes.
Veidt e o Filho do Relojoeiro

O homem que aparece nesse castelo nas highlands só pode ser Adrian Veidt. Em uma cena um tanto quanto misteriosa, ele faz uma alusão ao Dr. Manhattan ao falar sobre o filho do relojoeiro.
E agora?
Confesso que já estou fisgado por Watchmen. Parece que vai ser um seriado mais profundo do que o normal, daqueles que não se contentam em contar uma boa história, mas que também almejam discutir questões relevantes de maneira orgânica.
Que venham os próximos 8 episódios!

Achei o início simplesmente fantástico, mesmo com muitos assuntos abordados foi difícil não ficar impressionado com o que Lindelof e toda a sua equipe fez aqui. Ampliar uma obra já tão icônica e expandí-la tratando de assuntos atuais e importantes, ao mesmo tempo em que cria uma realidade alternativa fascinante.
Achei simplesmente fantástico o início da série e também sinto que vou precisar de recorrer a vários outros textos, já que não li os quadrinhos e apenas vi o filme, para poder captar todos os easter eggs
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