Star Wars: A Ascensão Skywalker é antes de qualquer análise uma grande decepção. Uma saga que há mais de 40 anos transformou o cinema e que no ano de 2015 retornou prometendo muito, se conformou em se tornar uma obra genérica, sem alma e covarde. Numa tentativa clara de “jogar pra torcida” e agradar a todos, o Episódio IX acabou se concentrando mais em anular o filme anterior, do que se tornar, mais uma vez, um marco cinematográfico.
O Tóxico Despertar
No Episódio VII J. J. Abrams conseguiu utilizar bem a nostalgia ao seu favor, trazendo sim ‘fan service‘ mas ao mesmo passo criando novos arcos e apresentando novos protagonistas de maneira muito interessante. A Disney, naquele momento, parecia estar no rumo certo ao trazer na linha de frente mais diversidade, principalmente em questões de protagonismo da nova jornada.
Por mais que Os Últimos Jedi tenha atraído a fúria de uma parcela tóxica do Fandom de Star Wars, a verdade é que desde que uma mulher (ainda que branca) foi escolhida para protagonizar a história ao lado de um negro e um latino que as reclamações se iniciaram. Não é algo novo em Star Wars, infelizmente, atores desistiram da carreira e, mais recentemente, atrizes como Daisy Ridley e Kelly Marie Tran sofreram tanto bullying que sumiram das redes sociais.

E o que encontramos em A Ascensão Skywalker é, vergonhosamente, uma produção que se esforça em agradar essa parcela que deveria ser abominada. A personagem de Kelly Marie Tran foi basicamente anulada na conclusão da saga. Deixada totalmente de lado, só pra citar um exemplo dentre vários.
Pra completar, os novos personagens que foram adicionados tem funções tão ridículas como provar que Poe Dameron (Oscar Isaac) gosta mesmo é de mulher. Não acrescentam quase nada na história e ganham papéis totalmente descartáveis, o que só contribui para tornar o que deveria ser uma conclusão épica num obra genérica e sem alma.
Luz, sombras e fantasmas
Não dá pra negar no entanto que o ritmo da história é bom. Desde seu início o filme consegue mesclar bem cenas de humor e ação até o seu desfecho. A parte técnica, como era de se esperar, é outro ponto alto do filme. Só que pra tudo isso acontecer, J. J. abusa de recursos e fórmulas que desgastam a história num roteiro que é bastante ruim.

Não são poucas as vezes em que algo é apresentado como ‘muitíssimo importante’ para logo em seguida, em questão de 2 ou 3 minutos, já não ser mais grandes coisas. Tantas outras vezes surgem cenas que parecem ser surpreendentes ou chocantes, mas logo a frente, sem dar tempo sequer do espectador assimilar, se surpreender ou se impactar, já são desmentidas para acalmar todos aqueles que buscam, a todo momento, pequenas satisfações e recompensas.
As poucas possibilidades interessantes que surgem são, inexplicavelmente, ignoradas ou não utilizadas na própria trama. Não fazendo sentido de serem sequer apresentadas, já que para nada serviram. Fica claro que o jogo feito aqui foi mesmo apenas anular tudo o que Rian Johnson, de forma ousada e brilhante, tentou fazer no Episódio VIII. E isso acaba deixando toda a trilogia desconexa.
A Decepção Skywalker
Star Wars a bem da verdade nunca deixou de ser um produto. Uma franquia que surgiu e se perpetuou para vender bonecos e fazer dinheiro. Só que nunca foi apenas isso. Além de se tornar um marco cinematográfico e ter transformado a vida de muitas gerações, a franquia mostrou que tem tudo para conversar com os novos tempos e ser, antes de qualquer coisa, uma obra de arte. É uma pena na conclusão dessa ‘nova’ trilogia, o time da Disney preferiu “jogar com o regulamente debaixo do braço“.
Existe uma cena com um dos personagens mais importantes de Star Wars que deixa tudo muito claro. Ele surge para literalmente falar que “estava tudo errado“, mas agora, finalmente as coisas seriam colocadas no lugar. E nesse arremedo mal costurado de frases de efeito e cenas para agradar quem continua preso num mundo do século passado, a Ascensão Skywalker se torna um claro sinal dos tempos atuais.

Ainda que não seja um filme tecnicamente ruim, cinematograficamente falando, foi, pelo menos para este que vos escreve e acompanha a franquia há mais de 30 anos, uma grande e completa lástima. Sem alma, covarde e decepcionante. O que ascendeu por aqui foi apenas a minha decepção. E não tem sabres de luz, navinhas, raios ou gritos de efeito (no melhor estilo Homem de Ferro) que dê jeito.

Star Wars: The Rise of Skywalker
Ano produção: 2019
Dirigido por J.J. Abrams
Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Adam Driver, Lupita Nyong’o, Mark Hamill, Domhnall Gleeson, Kelly Marie Tran, Joonas Suotamo, Billie Lourd, Naomi Ackie, Richard E. Grant, Keri Russell, Anthony Daniels, Jimmy Vee, Billy Dee Williams, Carrie Fisher, Ian McDiarmid e Harrison Ford.
Duração: 141 minutos
Gênero: Ação Aventura Ficção Científica
Legal seu texto, Márcio. Embora tudo que você tenha dito seja verdade, criou um efeito diferente de mim. Muita gente no VII, classificou como covarde, já que foi “Uma Nova Esperanaça” redesenhado, mas eu adorei, pelas mesmas razões que você colocou como um novo recomeço da franquia.
No VIII, a que te empolgou, foi a mesma que me decepcionou, porque não continuou as pontas abertas do VII e eu achei alguns momentos lentos, embora o final seja marcante.
Daí vem o IX e talvez, por ter sido um daqueles que se decepcionou com o VIII, fui com expectativa baixa. E J.J. usou da mesma fórmula conveniente do VII e juntou uma tonelada de fan services e de desejos de fãs e tentou colocar TUDO num filme, deixando mais uma vez de explorar arcos que seriam mais interessante.
Não achei ruim como voccê achou, mas te endendo. Foi satisfatório pra mim, emocionante, embora com muitas passagens apresentadas com elementos marcantes, mas que se desfaziam momentos depois.
J.J. não arriscou.
Que The Mandalorian seja o começo da construção de uma nova era. Skywalker já deu, né?
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Eu saí devastado da sala e acabou que a trilogia ficou incoerente. Se você pensar nesse como um filme “único”, talvez até fizesse mais sentido , não sei, mas quando você pensa que ele vem fechar pontas e fechar uma trilogia, ai fica complicado.
Ruim mesmo não é, de fato, a palavra é mesmo decepcionante. Parece um filme da Marvel com “skin” de Star Wars.
Mandalorian tá muito no feijão com arroz, mas Baby Yoda salva tudo. Estou adorando.
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