Dos vários medos que possuo, um deles é saber que vou morrer sem ter terminado a minha lista de filmes a assistir. Não sei se existe um nome técnico para este tipo de fobia, o fato é que essa certeza as vezes me corrói.
Há 84 anos atrás, no ano de 2007 quando resolvi começar escrever asneiras aqui, uma das primeiras páginas que criei foi uma chamada “Lista de Filmes a Assistir”. Na era de ouro dos blogs, recebia através dos comentários nos posts e também por email várias indicações de filmes. Ia anotando um por um e, constantemente, dava uma olhada na minha lista para escolher alguma indicação recebida. Assim que assistia algum deles, eu fazia um riscadinho mágico que me trazia paz. Um a menos, vamos ao próximo.
Só que cinema é assim, uma coisa puxa outra. Algumas vezes você gosta tanto de um(a) cineasta que corre para assistir todas suas obras . Outras tantas você viu alguém atuando tão bem que resolveu saber mais sobre seus outros trabalhos. E aí tome mais cinco itens para sua lista. Alguém viu que você adorou aquele filme de viagem no tempo no qual o protagonista está perseguindo a si próprio num loop temporal infinito. Toma mais três. E por aí vai.
Quando você menos espera, sua lista que era uma página inocente se transformou num pergaminho tão extenso que poderia conter todas as magias e feitiços do Dungeons & Dragons do primeiro ao vigésimo nível. Ao invés de te ajudar a escolher algo para distrair sua mente dessa realidade horrível, na verdade, sua querida watchlist, antes um artefato mágico que lhe traz +3 de paz de espírito, agora se transformou num buraco negro que suga toda sua força vital.
Pronto, o que era um passatempo virou um gerador aleatório e infinito de ansiedade. Você não ganha mais tempo, agora o tempo é que ganha você. É a tal da reversal russa que tanto se falava na internet no século passado. Escolher entre dez opções era moleza, mas e agora que sua lista tem 227 filmes? E essa nem é a única, porque cada serviço de streaming que você assinou tem o seu próprio protótipo de buraco negro para te consumir.

O ritmo frenético e insano de lançamentos também não contribui em nada para a nossa sanidade cinematográfica. A busca eterna por sempre ver algo novo acaba transformando a lista de filmes a assistir num repositório de produções a se esquecer.
Relaxar a mente, respirar fundo e tomar uma decisão sobre o que assistir tem deixado de ser algo consciente. Tem se tornado um processo muitas vezes automático, uma ação por impulso. Aquela ilusão de que novo é sinônimo de bom nos faz deixar de assistir obras riquíssimas (ou bobas, mas que poderiam lhe trazer um pouco de paz) que ficaram para trás muitas vezes de forma injusta.
Por isso, volta e meia, eu dou uma atualizada na minha lista de filmes a assistir no Letterboxd, uma das raras redes sociais que mantenho as coisas organizadas. Sem correria, sem stress. De vez em quando faço uma revisão e retiro coisas que achei que queria ver mas nem quero mais.
Não vou conseguir ver todos os filmes que gostaria de assistir, não vou ler todos os livros que marquei como desejado e tampouco vou escrever, neste texto, tudo o que pensei que poderia escrever. Quanto mais cedo aceitar, melhor.
Como já diria Kurt Vonnegut em sua obra prima “Matadouro 5”: Coisas da vida.
Faz pouco tempo eu estava aumentando minha lista freneticamente, até que resolvi ir com mais calma e fazer uma seleção mais criteriosa do que assistir no futuro. Além disso, tento aproveitar mais a experiência lendo mais críticas, vendo vídeos e as vezes escrevendo algo. Na paz, sem stress. Tem dado certo. A minha lista está bem mais possível atualmente.
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