Não é à toa que a obra escrita por Frank Herbert e lançada em 1965 seja considerada um dos pilares da ficção científica moderna e também seja o livro mais vendido do gênero. Se a adaptação para os cinemas em 1984 aconteceu em meio a severos problemas resultando num filme muito abaixo do que era esperado — tanto que David Lynch sofre muito quando pensa nesse trabalho — nas mãos de Denis Villeneuve “Duna” finalmente possui um filme que faz jus a tudo o que o clássico literário representa e que merece ser apreciado.
Na trama somos apresentados a Paul Atreides (Timothée Chalamet), um jovem talentoso e com algumas habilidades “messiânicas” que nasceu com o destino “já traçado”. Tudo se inicia quando ele acompanha sua família que viaja até o planeta mais perigoso do universo conhecido para garantir o futuro do seu povo. Enquanto outras famílias (chamadas de Casas Maiores) orquestram um melindroso plano pela disputa ao controle exclusivo do fornecimento do recurso mais valioso do universo (a especiaria), Paul vai precisar amadurecer rápido e encontrar novos aliados em uma grande guerra que começa a tomar corpo.
Indicado ao Oscar, Dennis Villeneuve (“Incêndios“, “A Chegada”, “Blade Runner 2049”) consegue captar muito bem o que o livro tem de melhor e transpõe, de maneira magistral, o universo criado por Herbert. Mesmo sendo uma produção grandiosa (em todos os sentidos), são nos detalhes que Villeneuve mostra ao que veio. Com a ajuda de um design de produção muito bem pensado e ótimos efeitos especiais — as tempestades de areia, os vermes gigantes, é tudo muito lindo — “Duna” apresenta em tela um universo único e recheado de tecnologias e figurinos marcantes.

Outro ponto positivo na parte técnica do filme está em sua trilha sonora composta pelo grande Hans Zimmer. Fã confesso de “Duna”, ele declinou trabalhar com Christopher Nolan em Tenet para ficar a cargo deste filme. Seu trabalho é, como de costume, excelente e suas composições casaram muito bem em todas as cenas, sejam nos momentos que precisam de maior tensão, seja nos momentos mais introspectivos da história.
Para além de tudo isso, o trabalho de Dennis Villeneuve com o elenco é simplesmente espetacular. O filme está recheado de excelentes atuações e conta com atores bastante carismáticos, a exemplo de Jason Momoa e Oscar Isaac e também traz outros grandes nomes como Zendaya, Stellan Skarsgard, Josh Brolin, Javier Bardem e Rebecca Ferguson. Nada disso iria funcionar se Timothée Chalamet não assumisse o papel do protagonista de maneira convincente. Além de ser o herói de uma longa e épica jornada, o seu personagem é apresentado em todo instante como um Messias e luta em várias frentes que vão desde poderes psíquicos e visões até os dilemas morais de ser herdeiro de uma família poderosa e que precisa conseguir alguns apoios e aliados em meio a um ambiente hostil.
Sendo a primeira parte de uma história muito maior, “Duna” acaba tendo alguns problemas para introduzir tantos conceitos, povos, famílias e disputas políticas. O filme está recheado de diálogos expositivos. Algumas vezes, quando o protagonista assiste a algum vídeo explicativo, até parece que estamos diante de um passeio num museu com audiodescrição. Apesar de ser compreensível esse esforço de “educar” o espectador em tantos assuntos diferentes, às vezes fica no limite entre ser interessante e nos “tirar do filme”.

Em conclusão, sim, “Duna” é mesmo um filme gigante. Tem longa duração, tem muitos conceitos novos sendo apresentados, uma lista extensa de personagens e famílias, mas mesmo assim trata-se de uma produção muito coesa e bem apresentada. É engraçado como, após quase três horas de duração, a sensação que fica é que “terminou ainda na metade”, mas sem deixar um sentimento de frustração mesmo que, claramente, tenham tirado debaixo da areia um conflito no final para fazer com que nosso herói “suba de nível“.
Não dá para dizer ainda que é um novo clássico, mas “Duna” é o tipo de filme que todos os amantes de ficção científica precisam assistir.